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Bill Gates é mais progressista que Vieira da Silva, o ministro do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social.
Pelo menos Bill Gates percebe o óbvio, que Vieira da Silva não percebeu.
Os robôs criam riqueza, tornando a mão de obra humana obsoleta destroem postos de trabalho e esvaziam as contribuições para a segurança social. Então tem de se arranjar maneira de redestribuir essa riqueza.
Um tipo equaciona a bondade da sua crítica àqueles camaradas jornalistas que na sequência da indicação de Vieira da Silva para ministro do Trabalho foram para as televisões e jornais dizer que era uma nomeação que agradava à esquerda.
Infelizmente, a realidade dá-lhe sempre razão. Os ditos camaradas devem mesmo viver numa qualquer realidade alternativa, um misto de Twilight Zone e a Terra do Nunca, onde a raça das notícias das medidas do ministro não chega e onde eles se mostram incapazes de somar dois e dois. É que com Vieira da Silva é, há muitos anos, cada tiro cada melro.
Agora, lançou-se legislação em França pelo direito a não se ser contactado pelos patrões, nas folgas, nas férias e fora do horário de trabalho. A noção de que não é óbvio o carácter abusivo de muitos desses contactos evidencia-se pela necessidade que alguém sentiu de os proibir.
Questionado acerca do assunto, o ministro português não se lembrou, mais uma vez, de grande coisa para dizer. Será assunto para debate e discussão em sede de contrato colectivo.
Em vez de fechar liminarmente a porta aos abusos, abriu antes uma janela aos patrões que insistam em trabalhar de modo desorganizado e sem planeamento.
O subsídio que os contribuintes, através da descida da Taxa Social Única, vão dar às empresas para aumentarem o salário mínimo é um erro. Não apenas do ponto de vista filosófico mas também dao ponto de vista da solução de governo encontrada pelas esquerdas parlamentares em 2015.
Agora, Vera Jardim, figura do PS com uma certa gravitas, ex-ministro de António Guterres, sugeriu que o PS force a nota da Europa para marcar diferenças com o BE e o PCP.
Alguns dentro do PS evidenciam uma vertigem suicida.
No final do ano passado, um grupo não dispiciendo de jornalistas de política deu Vieira da Silva como um ministro que agradaria à Esquerda.
A afirmação é apenas mais uma das muitas que expõem as fragilidades de análise de um grupo maioritariamente pouco capaz de dizer coisas que colem com a realidade.
Vieira da Silva já em tempos tinha mexido o Código de Trabalho de Bagão Félix a favor dos patrões, o que não era de molde a deixar a esquerda descansada. Medidas nascidas e propostas pela direita e amplamente criticadas à esquerda, acabam reequacionadas por Vieira da Silva.
Recentemente, mostrou-se incapaz de pensar fora do esquematismo liberal, quando solicitado a fazê-lo pelo Reitor da Universidade de Coimbra - o que mais vincava a alienação de grande parte do grupo dos jornalistas de política.
Agora, Vieira da Silva volta a aproveitar uma ideia da Direita e entrega um catita cabaz de Natal aos patrões da CIP, CCP e CAP, ao pôr os contribuintes a subsidiarem-lhes (através da redução da Taxa Social Única) um muito atrasado aumento do salário mínimo nacional.
António Costa pode dar voltinhas, falar de Natal e pôr os tuítes oficias do PS a dizer que fecharam 2016 com chave de ouro.
No essencial e na substância, fecha o ano com uma traição dos acordos que lhe têm mantido o Governo, disse-lhe a esquerda parlamentar com todas as letras, aqui, aqui e aqui. Entre a tentação da maioria absoluta e da aliança com o sucessor de Passos Coelho, o PS balançará?
No pico da luta dos taxistas com a Uber, João Matos Fernandes, o ministro do Ambiente, disse que a Uber não é uma operadora de transportes.
É caso para lhe perguntar então o que é que a Uber está sendo se não uma operadora de transportes?
Pouco depois, Vieira da Silva, ministro da Solidariedade, recusou pôr robôs a pagar segurança social pelos trabalhos que destroem, uma ideia que ouviu da boca do Reitor da Universidade de Coimbra:
Abrem-lhe caminhos para continuar a manter um sistema público e universal de segurança social e o ministro recusa sequer considerar a hipótese, que a robotização do emprego, disse, faz parte do processo de modernização competitiva das empresas. Vieira da silva chega ao ponto de se preocupar com eventuais gastos da empresa com a fiscalidade, como se não poupassem o suficiente na eliminação de postos de trabalho,
Não se vai muito longe com este tipo de raciocínio tão amigo da desregulamentação e da supressão dos humanos.
As apresentações periódicas dos desempregados a receber subsídio foram criadas por Vieira da Silva, o tal ministro que jornalistas-comendadores dizem ser apreciado pela esquerda.
Para lhe minar qualquer credibilidade à esquerda, bastava a criação da obrigação que transforma os desempregados em arguidos com termo de identidade e residência, impedidos de sair de casa por uns dias sem autorização do IEFP, e a ter de dar conta das saídas para férias .
A coisa termina agora. Tantos anos para no PS darem conta da falta de critério de proporção e proporcionalidade da imposição que criaram e dos paralelismos com os termos para identidade e residência do processo penal.
Vieira da Silva, ministro do Trabalho de António Costa, tem atrás um homónimo ministro daninho de José Sócrates.
Ao contrário do dito por muitos analistas aquando da formação do Governo em funções, Vieira da Silva estará muito longe de agradar à esquerda.
A recuperação do encosto dos feriados aos fins-de-semana é bandeira de que muito gostam os que acabaram com quatro feriados da última vez que estiveram do Governo. Curiosamente são os mesmos que se zangam com as greves marcadas para as sextas-feiras, que o mesmíssimo argumento serve-lhes para tudo. Ignoram também os ganhos do turismo e da restauração com as pontes, assim como o retorno em IVA e IRC.
Para já, o anúncio de duas medidas decentes que só pecam por tardias e limitadas. Por um lado, os cortes - devia ser o fim deste regime de trabalho forçado - nos contratos emprego-inserção, por outro o aumento da Taxa Social Única nos contratos a prazo.
(Foto: m.publico.pt)
Enquanto à esquerda se prossegue sem dar indicações reais ao eleitorado de que se pode contar com ela na governação, no Partido Socialista vive-se alinhado com o habitual. Com a lógica e alianças que conduziram o país ao ponto em que está.
Ontem, apenas quatro parlamentares do PS votaram contra o pagamento em duodécimos de metade dos subsídios de férias e de Natal no sector privado. Seis abstiveram-se. Os restantes votaram ao lado da maioria que suporta o Governo, de onde veio a ideia.
A deputada Isabel Moreira tem andado muitas vezes desalinhada com o PS. Foi uma das que votou contra. Mais uma vez o grupo parlamentar do Partido Socialista não contou com o seu voto. A justificação é límpida: "O que aqui está é o abrir da porta para a eliminação dos subsídios, os quais, sendo remunerações, são direitos fundamentais."
No PS não se entende a coisa da mesma maneira. Tal como não se entendeu quando Vieira da Silva agravou o Código do Trabalho de Bagão Félix. Ou como quando, já com Passos Coelho, otou a favor de mais alterações ao mesmo diploma. No essencial, desde Bagão Félix que se tiram direitos aos trabalhadores transferindo-os para o lado mais forte da relação laboral. Sempre com os votos favoráveis do PS.
Ao contrário do que alguns defendem, nenhum partido português é imprevisível. São todos aliás de uma previsibilidade notável. Bem pode o PS apresentar no comentário publicado dezenas de pontos de vista contestando a austeridade do Governo PSD/CDS-PP. Quando se trata de votar questões ligadas às questões salariais e das relações de trabalho - assuntos matriciais num partido socialista -, o PS tem sistematicamente votado ao lado dos partidos da Direita. Mesmo quando - é o caso agora - o seu voto contrário em nada impediria a aprovação da medida.
Em recente entrevista ao Diário de Notícias, Vital Moreira considerou um equívoco aquilo que designou como "flirt" do PS com os partidos à sua esquerda. Apenas mais um ponto de vista semelhante a outros que tem manifestado. E todos bastante mais adequados ao sentido geral de actuação do PS do que os de Isabel Moreira, uma das deputada que vai dizendo coisas de esquerda aos eleitores.
(Foto: radiocampanario.com)
A TSU teve o condão de despertar uma grande maioria de portugueses para a injustiça da governação do PSD/CDS-PP e da presença da tróica. Foi quando perceberam que lhes iam aumentar os descontos para a reforma não para fazer face às dificuldade da Segurança Social, mas para transferir o dinheiro obtido para as contas dos seus patrões.
Acordou-se. Em todos os quadrantes ideológico. Em todos os sectores profissionais. Mais vale tarde que nunca. Só que há um problema. É que o esbulho, que outro nome se lhe pode dar?, não é de agora. E continua.
Já há muitos anos que os portugueses andam a transferir o seu dinheiro para o bolso dos patrões. Conheci muitos e muitos estagiários, licenciados, a quem os pais pagavam para trabalhar. Vindos de fora de Lisboa, alguns ganhavam menos que o salário mínimo, insuficiente para fazer face às despesas com transportes, alimentação e habitação, e trabalhavam às dez e doze horas diárias. Isso não impedia que chefias recebessem anualmente prémios de dezenas de milhares de euros pelo sucesso comercial do empreendimento ou que o patrão pudesse perder 50 milhões de euros em bolsa. E nem falo do meu caso.
Sucessivos códigos laborais (de Bagão Félix, de Vieira da Silva, de Pedro Mota Soares, CIP, CCP, CAP e UGT) aumentaram o tempo de trabalho, flexibilizaram-no, acrescentaram-lhe mais meia-hora, cortaram feriados, desvalorizaram o valor das horas extraordinárias e do trabalho suplementar, esmagaram indemnizações, desestruturaram vidas familiares e atiraram as mais valias resultantes da coisa para o bolso de patrões, que nem por isso contrataram mais gente.
No fundo, é o efeito pimba. O gosto está por educar e o óbvio vence. Isso explica o sucesso de Tony Carreira em contraponto com, por exemplo, Amélia Muge, uma compositora de excepção. Só quando a coisa se torna muito evidente é que a população a percebe.
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