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Tinha este postado pendurado já há algumas semanas. Continua a fazer sentido no dia em António Guterres é confirmado no cargo de secretário-geral pela Assembleia Geral das Nações Unidas. Publico com alguns acresentos. Para memória futura.
«Primeiro, Durão Barroso desmentiu ter promovido junto do Clube Bilderberg a candidatura de Kristalina Georgieva, a búlgara vice-presidente da Comissão Europeia, a secretária-geral da ONU, em detrimento de António Guterres.
Depois, o ministro dos Negócios Estrangeiros alemão desmentiu que Angela Merkel tivesse feito a promoção da búlgara de junto de Putin, durante uma eunião do G20.
Há dias, Paulo Rangel lembrou-se de dizer que o ruído da Comissão Europeia em torno da ida de Durão Barroso para a Goldman Sachs, servia para boicotar a candidatura de António Guterres a secretário-geral das Nações Unidas - um nexo de causalidade curioso.
[A ligação encontrada por Rangel - Comparar e confundir carne do lombo (Guterres) com a carne que serviram aos marinheiros do Potemkime (Durão Barroso) - não lembraria ao diabo. Lembrou ao eurodeputado português. Então vocês não reparam no tipo de gente que Portugal tem?, cantou espalhando lama por toda a parte.
Depois recuou, mas] Paulo Rangel foi eleito pelo PSD que no Parlamento Europeu pertence ao grupo popular europeu, a família política de centro-direita de Durão Barroso, Angela Merkel e Kristalina Georgieva.
As manobras do PPE para tramar Guterres foram bastante ruidosas e tiveram direito a alertas como os de Francisco Seixas da Costa» [O embaixador, antigo secretário de Estado dos Assuntos Europeus e representante de Portugal na ONU, alertou dias mais tarde para o papel desempenhado na candidatura de Kristalian Goergieva por outro eurodeputado do PSD, Mário David. O secretário de Estado de Passos Coelho recusou então receber lições de patriotismo. Mas, se calhar, devia.
Teoricamente tem razão. Ninguém é mais ou menos patriota por apoiar ou deixar de apoiar um português para um cargo internacional. Muitos, logo de entrada, nunca viram motivos para apoiar Barroso na Comissão Europeia. O devastador rasto da sua passagem de dez anos por Bruxelas dão-lhes inteira razão.
O problema é que Mário David mistura várias coisas. A eleição de Kristalina Gergieva é do domínio do internacionalismo monetário e não do da pátria. Nada tem a ver com patriotismo ou com um empenho nacional declarado como aconteceu com Guterres. A mesma falta de transparência existiu aliás com Durão Barroso, cuja eleição foi secretamente cozinhada em directórios mundiais após a cimeira das Lajes.
E David escusava de justificar o seu papel na candidatura da amiga Kristalina com o desconhecimento das intenções de António Guterres, dizendo julgá-lo candidato presidencial. É distracção a mais. Há vários anos que Guterres negara querer entrar numa futura corrida a Belém. E há muito que era conhecida a sua vontade de ocupar o lugar de secretário-geral da ONU.
Mário David e outros fizeram parte de um frente estrangeira e europeia. A Alemanha fez força, coadjuvada por democratas tão pitorescos como os que governam a Húngria e tão musculados como os que estão à frente da Polónia. Com vários candidatos de países da União Europeia na corrida ao lugar de secretário-geral da ONU, a Comissão Europeia assumia um papel de não neutralidade, apoiando uma sua vice-presidente a quem deu licença sem vencimento - apesar dos compromissos de continuidade no cargo assumidos pelos comissários europeus. E Junckers andou mesmo em visitas de promoção de Kristalina Georgeva.
Espantoso, como vincou Jorge Sampaio.]
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