Saltar para: Post [1], Pesquisa e Arquivos [2]



Há umas quantas semanas, jornalistas da secção de política de um dos periódicos nacionais queixavam-se das instruções diárias das chefias para fazer notícias que indiciassem cisões entre os partidos que apoiam o Governo de António Costa.

 

É um tipo de registo informativo que fala mais dos estados de alma dos jornalistas que o promovem que da realidade dos factos. Durante a última campanha eleitoral, só se viu um jornalista a acertar no Governo que aí viria, caso a coligação de Passos Coelho e Paulo Portas não chegasse à maioria absoluta.

 

O resto ignorou essa opção. Com desdém, desenhou cenários de menosprezo da capacidade de entendimento dos partidos da esquerda parlamentar. Bem se lixaram. E pagaram com um erro evitável a informação que deram aos leitores.

 

Mas a falha grosseira não teve grandes consequências a nível da consciência jornalística. Pelo menos, nada que afectasse por aí além um certo tipo de raciocínio. No Expresso, grande jornal político, persiste-se na análise de sondagens a partir do paradigma mental que determinou o espanto com a coligação parlamentar entre PS, BE e CDU.

 

Nova sondagem do semanário faz título com "PS e BE à beira da maioria absoluta". E continua-se na entrada com um "PS poderia dispensar CDU de um entendimento à esquerda para conseguir governar". Fazem-se, pois, contas com base na possibilidade de correr com um dos partidos de esquerda, procuram-se portas de entrada para o minar da confiança entre parceiros de uma coligação que tem funcionado.

 

A leitura de quem faz a análise é formalmente inatacável. Os números não deixam de poder ser lidos como foram. Infelizmente, confunde informar com estados de alma pessoais e colectivos da corporação activa e evita pôr outros dados na mesa.

 

A força da coligação que apoia o Governo PS decorre também da amplitude de forças que a constituem. Tem mais peso só por si uma solução com os três partidos que uma solução que contasse apenas com um deles. Não é indiferente me termos simbólicos ter o apoio de toda a esquerda parlamentar ou ter apenas o apoio de parte desses partidos. Os ganhos desta solução são muitos. Já as perdas não as conheço.

 

Ter BE e CDU na equação permite ao PS jogar um com o outro (e até com um contra o outro, nas muitas circunstâncias em que ambos se queiram emular). Ter  o BE permite ao PS justificar muitas das chamadas medidas fracturantes e modernizantes. Ter a CDU permite trazer para a solução governativa uma massa específica sindical e autárquica que o BE não tem.

 

Depois, para o PS, a CDU é uma enorme garante de fidelidade ao acordado. O BE garante aos socialistas uma combatividade e uma vivacidade não despiciendas.

 

Deitar fora um dos parceiros da coligação parlamentar, minaria a confiança dos parceiros. Quando chegará a minha vez, perguntaria o outro. E, enquanto isso, o que ficasse de fora só dificilmente se voltaria a mostrar disponível para entendimentos. Mesmo que tenha sido apanhado num momento irreptível, António Costa sabe que fez História ao unir as esquerdas.

 

Duvida-se que esteja disposto a deitar fora o que conquistou.

 

 

Autoria e outros dados (tags, etc)

publicado às 17:06



Mais sobre mim

foto do autor


Subscrever por e-mail

A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.



Arquivo

  1. 2018
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
  14. 2017
  15. J
  16. F
  17. M
  18. A
  19. M
  20. J
  21. J
  22. A
  23. S
  24. O
  25. N
  26. D
  27. 2016
  28. J
  29. F
  30. M
  31. A
  32. M
  33. J
  34. J
  35. A
  36. S
  37. O
  38. N
  39. D
  40. 2015
  41. J
  42. F
  43. M
  44. A
  45. M
  46. J
  47. J
  48. A
  49. S
  50. O
  51. N
  52. D
  53. 2014
  54. J
  55. F
  56. M
  57. A
  58. M
  59. J
  60. J
  61. A
  62. S
  63. O
  64. N
  65. D
  66. 2013
  67. J
  68. F
  69. M
  70. A
  71. M
  72. J
  73. J
  74. A
  75. S
  76. O
  77. N
  78. D
  79. 2012
  80. J
  81. F
  82. M
  83. A
  84. M
  85. J
  86. J
  87. A
  88. S
  89. O
  90. N
  91. D
  92. 2011
  93. J
  94. F
  95. M
  96. A
  97. M
  98. J
  99. J
  100. A
  101. S
  102. O
  103. N
  104. D